INSTITUTO JOHN GRAZ

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Anita Malfatti, Rego Monteiro e John Graz: três expoentes das artes plásticas na Semana de 22

Data: 10/11/2016 - Local: São Paulo

Ronda
Ronda; John Graz; Guache sobre papel; 1919.
Acervo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), São Paulo, Brasil.

A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um marco na cultura brasileira, que reuniu pintores, escultores, poetas, romancistas e músicos. Eles apresentaram suas obras rompendo com padrões estabelecidos e introduzindo elementos modernos.

No âmbito das artes plásticas, John Graz figurava, ao lado de Anita Malfatti e Vicente do Rego Monteiro, como “um dos pintores mais interessantes da Semana”, segundo Aracy Abreu Amaral, professora titular de História da Arte da FAU/USP.

Realizada entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana de Arte Moderna causou acalorados debates nos jornais e pelas ruas da cidade, mas ainda guarda muitos mistérios acerca do pouco material produzido sobre alguns de seus participantes.

Nascido em Recife (PE), Vicente do Rego Monteiro (1899 – 1970) iniciou seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1908. Três anos depois viajou com a família para a França, onde frequentou as Academias Colarossi, Julian e de La Grande Chaumière. No velho continente, participou do Salon des Indépendants em 1913. Com o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), voltou para o Brasil com sua família e se estabeleceu no Rio de Janeiro. No entanto, sua primeira exposição individual aconteceu na cidade de Recife, no Teatro Santa Isabel, em 1918.

Sua segunda exposição individual aconteceu na cidade de São Paulo, em 1920, onde entrou em contato e se aproximou de Di Cavalcanti (1887 – 1976), Victor Brecheret (1894 – 1955) e Anita Malfatti (1889 – 1964). Em 1920 começou a estudar a arte marajoara das coleções do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. No ano anterior à Semana de Arte Moderna, Rego Monteiro viajou para a França e deixou oito obras, entre aquarelas e óleo sobre tela, com o poeta e ensaísta Ronald de Carvalho (1893 – 1935), para serem expostas no evento.

Por sua vez, Anita Malfatti nasceu na cidade de São Paulo (SP) e teve suas primeiras aulas de pintura com a mãe, Betty Malfatti (1866 – 1952). Em 1910 se mudou para a Alemanha, onde viveu por quatro anos. Nesse período, frequentou por um ano a Academia Imperial de Belas Artes, em Berlim. Retornou para São Paulo e expôs os trabalhos desenvolvidos na sua primeira exposição individual, realizada no Mappin Stores. Depois disso, Anita foi para Nova York, onde viveu dois anos e teve a oportunidade de fazer dois cursos, um na Arts Students League of New York e outro na Independent School of Art.

De volta ao Brasil, expôs as obras resultantes dos estudos na sua segunda exposição individual, Exposição de Arte Moderna, em dezembro de 1917. Se foi louvada pelos modernistas da época e passou a integrar o grupo que discutia a renovação da arte brasileira, também foi severamente criticada por outros, mais preocupados com questões tradicionalistas. A artista virou centro de uma discussão que tomou jornais e revistas da época. Um de seus mais ferrenhos críticos foi Monteiro Lobato (1882 – 1948), que escreveu o artigo A Propósito da Exposição Malfatti, acusando-a de “estrangeirismos deslumbrados e mistificadores”. Por outro lado, foi defendida por Oswald de Andrade em um artigo publicado no Jornal do Comércio. Certo é que hoje, 94 anos depois, Anita Malfatti é lembrada como um dos arautos da Semana de 22.

Ainda recente em terras brasileiras, John Graz (1891 – 1980), pintor suíço que se mudou para o Brasil no começo da década de 20, realizou uma exposição em dezembro do mesmo ano na cidade de São Paulo, o que fez com que se aproximasse dos intelectuais do movimento modernista. Depois dessa exposição, Graz foi convidado por Oswald de Andrade para participar da Semana de 22, fazendo parte do processo de discussão do modernismo brasileiro. Formado na Escola de Belas Artes de Genebra, o artista frequentou os cursos de arquitetura, decoração e desenho. Recebeu por duas vezes a Bolsa Lissignol para estudar na Espanha. Além disso, conseguiu outra bolsa de estudos entre os anos de 1911-1913 para cursar publicidade, design e decoração na Escola de Belas Artes de Munique, completando sua versátil formação.

Retrato do Desembargador Gabriel Gonçalves Gomide
Retrato do Desembargador Gabriel Gonçalves Gomide; John Graz, Óleo sobre tela, 1917.
Acervo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), São Paulo, Brasil.

A qualidade da obra do artista suíço radicado no Brasil é descrita por Aracy Amaral, em seu livro Artes Plásticas na Semana de 22, da editora Perspectiva, nas seguintes palavras: “Todos os quadros apresentados por John Graz na exposição do Municipal tinham sido realizados ainda na Europa, em Genève, sendo dois dentre eles (Paisagem na Espanha) feitos no decorrer de sua bolsa de estudos. Certa transfiguração hodleriana transparece em suas telas Retrato do Ministro Gomide, e de maneira mais incisiva em sua Paisagem Suíça, onde é bem evidente o esquema de composição baseado em linhas paralelas horizontais. Uma forte estruturação está presente nas duas paisagens espanholas, sobretudo naquela que focaliza a Ponte de Honda, onde a preocupação tectônica se casa com uma sensível alteração cromática, que ganha em dramaticidade”.

Ponte-de-Ronda
Paisagem da Espanha (Ponte de Honda); John Graz, Óleo sobre tela, 1920.
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil.

Apesar de sua versatilidade técnica e qualidade artística, John Graz permanece pouco conhecido entre o público brasileiro. Nesse sentido, a mesma pesquisadora fornece algumas pistas para essa situação, quando comenta que: “Se sua obra não causou maior repercussão naquele então, talvez o fato se tivesse devido à sua presença recente entre nós, ou, como no caso de Haarberg, a menores facilidades de contato com o meio-ambiente. O qual, por sua vez, aos poucos passaria a solicitá-lo de tal forma que se viu obrigado a diminuir sua atividade como pintor para atender a realizações como projetista de interiores, afrescos e painéis”.

Se, por um lado, suas obras de artes plásticas não receberam a devida importância naquele momento, por outro, não podemos diminuir toda sua contribuição para o design e arquitetura de interior brasileira, já apontada anteriormente na dissertação de mestrado de Anna Maria Affonso dos Santos pela FAU/USP[1]. Porém, ainda pouco estudadas, suas criações no campo das artes plásticas carecem de maior investigação acadêmica para preencher as lacunas que ficaram ao longo do tempo e dar conta dessa enorme e pujante produção que conta com cerca de 1.700 obras (quadros, guaches, desenhos e projetos de decoração de interiores) catalogadas, segundo informação do Instituto John Graz.

Se você tem interesse em conhecer mais sobre o trabalho de John Graz, especialmente no contexto da Semana de 22 e do modernismo no Brasil, acompanhe o conteúdo do Instituto John Graz neste blog e no Facebook.

[1] Para ter acesso à dissertação de mestrado “John Graz: o arquiteto de interiores”, acesse: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-03032010-112258/publico/JohnGrazOArquitetodeInteriores.pdf

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